Se existe uma coisa que costuma ser a maior armadilha da
vida é se sentir seguro em demasia. Em mares turbulentos, quando o perigo nos
ronda, a angustia e o medo nos tornam muito mais atentos, mais em prontidão no
enfrentamento de tudo, principalmente dos fantasmas que carregamos em nós
mesmos. No entanto, basta um longo período de calmaria, aliado à
previsibilidade de uma rotina “céu de brigadeiro”, para que acreditemos ter
superado muito do que nos causa dor.
Não gosto de escrever assim, em tese, como se o que acontece
comigo pudesse se arvorar em verdade absoluta. Ao menos por aqui, prefiro ser
mais direto. Serei: em um momento de vacilo, não, pior, em um momento de
idiotice em estado puro, resolvi levar o Claudio para conhecer... Onde eu
estava com a cabeça?! Aquele era o “nosso” lugar, não dele! Ele não sabia, eu
sim! Como é triste se sentir estúpido! Provavelmente ele não entendeu, mesmo
porque eu escondi o quanto pude a minha sensação de quase me perder no imenso
buraco que se abriu em minha frente.
Não sei até que ponto foi real... com certeza foi minha
imaginação. Ao chegarmos, um frio me percorreu. Era um prenúncio, a que não dei
ouvidos! Eu devia, eu podia ter abortado a situação. Mas não; o forte, o
seguro, o cheio de si resolveu que era hora de arriscar, de provar que os mares
são outros! Fomos caminhando, a conversa bem amena e, num lapso, ou flash, não
sei bem, eu me vi naquele mesmo lugar, tão carregado de “nossas” marcas, mas o
tempo era outro. Era um tempo passado. Foi assustador! Era como se eu não
estivesse mais no tempo presente, mas sim pairando em outro tempo: o “nosso”
tempo. Nem sei como consegui falar que precisava ir ao banheiro. Depois de
quase mergulhar minha cabeça na pia (a água bendita como que levando pra longe
meus pensamentos), olhando no espelho, me vi voltar. Muito medo!
Isso foi no sábado. Não contei pra ele, nem pra ninguém.
Precisava contar. Enquanto ele dorme, estou aqui. Tudo é muito difícil, muito! Não
estou nada bem...