Estou um tanto enjoado de cinza. Sempre gostei de invernos,
das cores do inverno, mas jamais imaginei que, algum dia, pudesse associar ao
meu gostar a ideia de tédio, como venho experimentando por aqui. É como se a
porta de entrada desta nova fase me levasse a mergulhar num imenso túnel cinza,
a partir do qual não consigo vislumbrar onde isso irá terminar. O mais
interessante (se é que posso dizer que existe algo interessante nisso tudo!) é
que a sensação de tédio não vem acompanhada da sensação de um tempo monocórdio.
Pelo contrário, quando um dia sempre apresenta uma nova surpresa, todos passam
a ser como um mesmo dia. É nessa uniformidade quase perfeita que eu percebo
minha vida agora, como se o tempo que decorre fosse algo muito breve, horas que
sucedem como num abrir e fechar de olhos.
Eu sempre soube (ou intuía) que a intercalação de mudanças na
vida, mesmo que fosse apenas em alguns aspectos não tanto significativos, poderia
constituir um meio de se manter acesa a chama da própria vida. Algo como um refrescar
a nossa sensação de tempo, de obter um rejuvenescimento, um reforço, e com isso
a renovação da sensação da vida em geral. Sempre foi assim em todas as minhas mudanças.
Agora, porém, tenho um componente novo: uma missão inglória, que, com certeza,
não me trará nenhum “tesão” profissional (o único que nunca me abandonou, mesmo
nas piores crises), além de me sentir sufocado por todo este entorno,
sinceramente, habitat natural de tudo o que não consegue, nem nunca conseguirá
despertar em mim a menor das paixões.
Como um corolário de todo esse “pré-sentimento”, me foi dado
amplos poderes para decidir se tudo para, ou continua. E eu sei que deve parar.
Não tem a menor hipótese de continuar! E, pior que tudo, não tenho o menor
gosto (e, portanto, esforço) que continue. Ao menos tenho um tempo breve para
consumar esta “missão”: tudo deve se resolver até o final desse primeiro
semestre. O que significa/significará para minha carreira? Não sei dizer.
Talvez um capítulo novo, ao lado de cisões, incorporações, reorganizações...
desde que extinções seja algo digno de se incluir em algum currículo.
PS: Em relação à outra “parte” (o essencial, o que sou), até
para “combinar” com o atual estado da arte, não vou mais procurar amarras. Não
acho justo ter que partilhar com alguém tão jovem uma experiência cinza como
esta em que me encontro. Ele me faz bem e eu faço bem a ele. Ele queria ficar.
Não deixei. Minha proposta: vá e volte quando quiser, ou quando sentir
necessidade. Nada por aqui pertence a ele, como também não a mim. Mas, eu
escolhi. Não tem sentido ele ter que escolher. Quem sabe pode dar certo. Se não
der... mais uma experiência que foi vivida.