Cena
Sábado passado, fim de tarde, frio, chuva, calmaria. Bom
vinho. Ele, sentado no chão, envolvido em seu mundo, sua música, sua voz. Eu,
apenas ouvindo. E vagando por aí...
Guillemots
... You got
me off the paper round
Just sprang
out of the air
The best things
come from nowhere
I love you,
I don't think you care…
Ele sabe me fazer voar!
Apaixonar-se por alguém não é tão difícil assim. Até porque
estar apaixonado não significa estar pronto para amar. A paixão é um voo, um
belo e grandioso voo! E se embarcamos nele é porque somos impelidos pelo nosso
espírito, ansioso por ver o mundo de um ponto o mais alto possível. Assim,
voamos livres de qualquer amarra, soltos até dos nossos próprios pensamentos.
Passamos a duvidar de muitas convicções enraizadas, perdemos medos imemoriais,
respiramos o mais puro ar jamais imaginado! Olhamos no espelho e conseguimos
ver outro alguém no lugar de um velho alguém que nos acostumamos a ver durante
anos e anos e anos. Esse é o caminho que percorremos pela paixão. Esse é o
caminho que tenho percorrido há mais de um ano.
Agora
Novamente um fim de ciclo. Amanhã, de volta a Tampa. Penso
que cumpri minha missão por aqui. Não me sinto capaz de escrever sobre como
tudo se resolveu finalmente. Existe uma carga emocional muito forte ainda. Em
resumo, me sinto humano. Mais humano do que nunca! Provável que fiz,
profissionalmente, a mais linda (e humana) tarefa da minha vida. E se a saudade
bater, sei que tenho portas totalmente abertas pra mim.
E agora?
Será que o amo? A sensação nesse momento é que, lentamente,
aterrizei do meu voo. E o que vejo é a construção de uma cumplicidade imensa
entre nós dois; uma comunicação que se faz não apenas por palavras, mas também
por olhares, gestos e modos de silenciar, que beiram à perfeição da
simplicidade! Como quando ele ensaia uma nova canção, despretensiosamente
sentado no chão, numa tarde chuvosa. E eu o observo atentamente, sabendo que o
meu silêncio é a melhor forma de estar em comunhão com ele.
E isso só pode ser amor...