Tempo # 1 (Original)
Esses dias, ainda me aclimatando nessa nova fase, tenho
pensado muito na ideia dos ciclos pelos quais navegamos e que, afinal,
constituem nossas vidas. Iniciei e encerrei vários ciclos. Alguns muito belos,
felizes. Outros, carregados de tristeza. Mas, seja qual marca predomine, eles invariavelmente terminam. Então, ou começamos outro ciclo, ou permanecemos
(quase sempre sem perceber) algemados naquele que findou. Posso demorar a me
dispor ao início de um novo ciclo. Porém, ao menos até hoje, algo mais forte
que eu (o universo? Deus?) acaba por me arremessar em um novo caminho.
Alguns ciclos, mesmo que eu saiba certamente findos, eu
tenho pena de me despedir em definitivo. O maior exemplo que tenho é esse blog.
Ou, mais provável, o mundo todo dos blogs! Esta “sala” (como já chamou o Cocada
há décadas, rs) já teve muito leitores. E eu também era um assíduo leitor em
outras salas! Hoje, um vazio.
Eu tive, nos meus bons tempos “brasílicos”, muitos amigos.
Minha casa sempre foi um bom ponto de encontro para conversas e cafés
memoráveis. Hoje nem sei que lembranças ainda restam de tudo! Alguns emails,
cada vez mais formais, distantes. É, estou distante! Mais duro é constatar que
também distante daquele eu que fui um dia. Embora não sinta tristeza com essa
constatação.
E sobre certos ciclos recentes (curtos demais!): eu
acreditei, sinceramente, que em Tampa algo muito grandioso estava para iniciar.
Mais que acreditar, eu queria, eu precisava. Deu no que deu. Um fim inesperado
e, cá estou, a refletir como será afinal esse novo ciclo (frio/solitário) que
começo a desvendar...
Tempo # 2 (Update)
3 horas da tarde. 0 graus. Ontem escrevi as linhas acima,
rascunho a completar. Hoje, sai de carro, sem rumo, quem sabe pra vislumbrar um
pouco mais o entorno que se mesclará com meu novo ciclo.
6 horas... 2 graus negativos. Estaciono o carro na garagem,
passo na portaria: “Tem um rapaz
esperando pelo senhor lá fora.” (Que estranho!)
Encolhido, nos degraus da entrada do prédio...
Rapaz! O que você faz por aqui?
Olá. Desculpe por vir
sem avisar.
Meu Deus, vamos entrar! Tá muito frio aqui fora!
Desculpe...
Senta! Você quer tomar alguma coisa? Um café, um chocolate?
Não, obrigado.
Não sei o que dizer. Poucas pessoas sabem onde estou e
nenhuma te conhece!
Desculpe, sei que
estou sendo um intruso.
Eu que peço desculpas! Perguntando coisas sem importância. Sei
lá... algum problema grave pra você vir até aqui? Mais uma pergunta (rs)
desculpe...
Não, não... ou melhor,
sim. Eu precisava ver você! Desde aquele último dia, todo o silêncio... só sei
que precisava te ver, nem que fosse apenas isso! Te ver...
Definitivamente, estou sem palavras. Como é que você veio
até aqui?
Esquece isso! O que são
40 horas diante de uma vida?! Até que foi rápido.
Rapaz, você é louco! (rs)
Achei que você já
soubesse disso! (rs)
(Olhos cansados, olhos amedrontados, olhos que me sorriem...
não sei o que fazer)
Vamos fazer o seguinte, começando pelo mais simples: você
toma um bom banho quente, eu ajeito o quarto pra você, alguma coisa bem quente
pra você comer e depois podemos começar essa conversa de novo. Tá certo? Você
trouxe alguma roupa? As minhas são alguns números maior (rs), mas, em desespero
de causa... Fique à vontade; se precisar de alguma coisa, é só gritar...
Tempo # 3 (Lost or Found?)
Ele dorme agora, profundamente. Enquanto ele comia, poucas
palavras. Achei que as palavras eram desnecessárias. Pelo menos por hoje. Nos
olhamos, nos vimos, nos enxergamos. Ele acertou: precisávamos disso! Pelo menos
por hoje. Eu, incrédulo. Ele, calmo. Eu, todas as perguntas do mundo. Ele,
apenas uma resposta. Queria me ver. Não precisei perguntar, nem ele responder.
Sozinho aqui agora, uma última indagação: é assim que se
encerra um ciclo? Ou, mais uma vez, tenho que entender que nada depende apenas
da minha decisão? Melhor
dormir…